Renascença, Cultura Provençal e Humanismo

Neste artigo, vamos falar sobre a Renascença, cultura provençal e humanismo, na vida do gênio Leonardo Da Vinci.

Cultura Provençal e Humanismo

Em certo sentido, podemos dizer que a renascença começou e terminou na própria França: o movimento literário conhecido como poesia provençal pode ser visto como aquele início, enquanto o maneirismo, magnificamente representado em Fontai-nebleau, seria o final.

Não nos esqueçamos que, ainda em plena idade média, as relações entre os dois países, França e Itália, já eram especiais; o famoso Francisco de Assis, por exemplo, teria tomado aos vizinhos muito mais que seu próprio nome: deles lhe teria vindo a inspiração dos romances de cavalaria e o espírito poético no relacionamento com os homens e com a natureza terrena e celeste.

Nos livros tradicionais franceses, com suas coleções de crônicas fantásticas e de contos, Bocaccio teria buscado urna fonte para a criação de sua própria obra; e Dante, ele mesmo, parece ter sofrido forte influência da arte da miniatura, tão característica de Paris.

Na sua Autobiografia Cellini diz que Dante se comprazia em Paris e, além disso, "entendia bem a língua francesa" que ele mesmo, Cellini , havia modestamente "aprendido muitíssimo bem".

Renascença e Humanismo

Essas observações servem para formar a ideia de uma renascença dentro da renascença, isto é, um primeiro movimento humanista no século XIII, que declinou rapidamente até que viesse o outro, este poderoso e duradouro, no século XV.

Em seus finos ensaios acerca do tema, o eminente crítico e esteta inglês Walter Pater, observa que de fato: "A palavra renascença é agora geralmente usada para denotar não apenas o reviver da antiguidade clássica, que teve lugar no século XV, e ao qual a palavra foi aplicada em primeiro lugar, mas todo um complexo movimento do qual o reviver da antiguidade clássica era apenas um elemento ou sintoma".

A renascença constitui, assim, um movimento multifacetado porém unitário em seu espírito; e de acordo com esse espírito o homem renascentista ama as coisas do intelecto e da imaginação por si mesmas; ele concebe a vida de maneira nova, mais suave e agradável; ele estimula em si mesmo e nos outros a busca de novas fontes de prazer estético e da imaginação, ou vai encontrar em seu esconderijo aquelas fontes de que se serviram os antigos.

Daí surge a preferência que tantos poetas e estudiosos da renascença manifestam pela época antonina do Império Romano, com sua melancolia e inclinação para o sonho, com seu amor pelas antiguidades gregas, etruscas e mesmo romanas, com seu vago anseio por novas sensações provenientes  religiosos  orientais, egípcios e sírios sobretudo.

Percebemos às vezes um exercício intelectual em Leonardo da Vinci que se aproxima, estranhamente, da antiga arte da adivinha ao, que tinha, florescido naquele mesmo solo da Toscana sob os etruscos; daí, dessa energia imaginativa tão própria dos renascentistas, provém aquele desejo insaciável de realizar novas experiências, e encontrar novos temas de poesia, novas formas de arte.

Quando o Papa Nicolau V projetou seriamente a restauração da cidade de Roma no seu antigo esplendor, quando Leone Battista Alberti estudou com maravilhosa riqueza de minúcias a disposição da arquitetura das ruínas, ou ainda quando Benvenuto Cellini foi evocar os espíritos na arena do Coliseu, eles apenas obedeciam àquele impulso; toda a pintura de Leonardo representa a história daquele mesmo impulso.

Quantas descobertas importantes da renascença foram feitas como que por acaso, simplesmente a partir do entusiasmo dos estudiosos! Como encontramos associados neles, o exercício intelectual mais insípido e didático, a busca da erudição pela erudição, a mais pura disciplina escolástica, e, ao mesmo tempo, os sonhos mais grandiosos, as concepções mais ousadas, uma incrível capacidade de empreendimento!

Biografia de Leonardo Da Vinci


Lourenço, o Magnífico

Por isso, só nos é possível compreender um pouco do gênio universal de Leonardo da Vinci se conseguimos enxergá-lo no cenário que o emoldura: na renascença da qual Florença e Milão formam dois epicentros, é verdade, mas que a França vem completar pela influência duradoura da poesia provençal sobre a literatura italiana do final da idade média, e pela sensibilidade artística de Luís XII e muito mais de Francisco I, "aquele rei tão maravilhoso”, como diz Benvenuto Cellini, e que tanto admirou, protegeu e amou Leonardo.

Quiçá esse amor fosse um resquício distante, refinado e platônico do amor cantado pelos trovadores provençais: não tinham eles criado uma nova poesia, dotada de intimidade e liberdade, capaz de oferecer ao coração uma variedade quase infinita de temas?

Aqueles trovadores, não saudavam eles a variedade de objetos vistos nos recessos do coração humano? Se Leonardo não foi um escritor, um poeta no sentido estrito do termo, se ele finge, e apenas finge desprezar a poesia, seu temperamento não nos parece menos romântico, seja pelas peripécias de sua vida aventurosa, seja pelos mergulhos que ele faz nas profundezas da arte.

É possível que, em Amboise, já envelhecido e tocando o limiar da morte, ele tenha meditado sobre os versos de seu conterrâneo e príncipe dos mecenas, Lourenço o Magnífico:

  • "Como é bela a juventude / Todavia como escapa! / Quem quer ser feliz, que o seja / Do amanhã não se tem certeza!".

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