Leonardo Da Vinci vai para França

A França

O intercâmbio cultural entre a Itália e a França foi intensificado a partir do século XIII.

Intelectuais italianos do porte de Dante e Tomás de Aquino não apenas estudaram em Paris, mas também absorveram a fundo a cultura original que lá se desenvolvia, naquela região intermediária entre as províncias flamengas e a própria Itália.

Além disso, o espírito da poesia trovadoresca, de provável origens sarracena, se espalhou por toda a península, levando os seus "cantares" aos mais remotos rincões; isso, juntamente com a formação paulatina de uma língua nacional, popular e literária, em ambos os países, estimulou suas relações recíprocas.

No final do século XV e começo do século XVI, quando já estava formada a monarquia nacional francesa, sob o regime da "terceira raça", a prestigiosa dinastia de Valois, essas relações se condensaram em disputas dinásticas por um lado, com reivindicações francesas sobre a Lombardia, e, por outro lado, nas mais profícuas trocas em termos culturais.

O rei Francisco I se mostrou um soberano generoso e admirador incondicional da cultura italiana, o que muito influenciou a vida de Leonardo em sua última fase.

Rei Francisco I

O relacionamento de Leonardo da Vinci com a refinada corte francesa remonta aos primeiros tempos de Milão, quando o artista conheceu o rei Francisco I, senhor de um gosto refinado e mecenas da mais alta categoria, que admirava profundamente a cultura renascentista italiana, era colecionador de obras de arte, humanista e amante dos livros, e assim enriqueceu as bibliotecas e os palácios de França.

Além disso, ele promoveu a grandeza do país, disputando a primazia no continente europeu com Carlos V. Em sua Autobiografia, Benvenuto Cellini não economiza elogios dirigidos ao soberano francês, que era capaz recompensar os autores de belas obras de arte com pensões generosas ou ricas prebendas, além de títulos nobiliárquicos e a sua honrosa amizade.

O rei também era condescendente e afável,  se  dignando dar conselhos acerca de empreendimentos artísticos, ou ouvir com atenção as opiniões de diletantes e especialistas a respeito desse assunto.

Embora notemos algum exagero na afirmativa de Benvenuto Cellini, de que o rei confessou: "Jamais vi outro homem desta profissão", quer dizer, um artista, "que me agrade mais, ou mereça mais ser premiado por isso", referindo-se ao próprio Cellini, é claro, o fato é que Francisco I soube reunir à sua volta uma plêiade de notáveis artistas, sempre falando muitíssimo bem o italiano, como ressalta Cellini a respeito deste ou daquele nobre francês dotado da insigne qualidade.

Com o fim de deleitar-se à distância de sua capital Paris, ou talvez imitando nisso também os italianos que tanto admirava, o rei construiu uma estância dotada de deliciosos parques à volta de um palácio que deveria ser o receptáculo de seu refinamento: Fontainebleau, nome que Cellini traduz em italiano de maneira pitoresca e sedutora aos nossos ouvidos.

Embora esta fosse a sede da corte, o lugar de eleição de Francisco I onde deveriam brilhar algumas obras do renascimento tardio e do início do maneirismo italiano, aquela fase mais delicada e por assim dizer feminina da arte, quando a elegância excessiva e a preocupação com um efeito quase teatral tomou conta da pintura e da escultura, outros palácios são dignos de menção, sobretudo os situados no pitoresco vale do Loire, os quais expressam todo o sentimento de grandeza e de cultura artística e intelectual da nobreza de França.

Destinados, a principio, ao rei Luís XII e seus ministros, aqueles palácios serviram depois, sob Francisco I, de refúgio a muitos artistas vindos da Itália. Blois, Amboise, Gaillon, Chambord, Azay-le-ideau, Chenonceau, são os nomes mais 'expressivos desses re-cantos onde a vida rural e suburbana era artificialmente dotada de todos os confortos imagináveis na época, a fim de oferecer um descanso melhor aos seus chegou obres ocupantes; Leonardo foi estabelecido em Amboise a França.

Castelo Clos Lucé
solar de Clos Lucé, que Rei Francisco deixou a disposição de Da Vinci até sua morte

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