O Olho Humano na visão de Leonardo
Para Leonardo da Vinci, esse é o órgão fundamental, que consola a alma de sua prisão corporal mostrando-lhe toda a variedade da natureza e das obras humanas.Essa variedade, diz o artista, é tão grande que o olho jamais se cansa de a contemplar, e para nós a perda de outro sentido, o da audição, por exemplo, deve ser menos doloroso que a perda da visão, porque esta perda equivale a uma condenação perpétua num mundo de trevas.
Daí, desse verdadeiro culto do olho, provém o empenho de Leonardo na elaboração de espetáculos que lisonjeiem aquele órgão.
Típico dessa inclinação foi o engenho que ele construiu em honra do rei da França, seu futuro protetor Francisco I, em visita a Milão: encarregado da construção de algum engenho original e impressionante, ele se pôs a fabricar um leão mecânico, uma espécie de robô que marchava automaticamente, o qual, o qual, ao aproximar-se do rei, teve seu peito aberto por si só, mostrando-o cheio de lírios, a flore heráldica da monarquia francesa.

Como se isso não bastasse, numa sucessão de espetáculos inéditos e maravilhosos, verdadeiramente dignos da renascença italiana, ele comemorou as festas de núpcias de Galeazzo Sforza e Isabela de Aragão mediante um aparelho que recebeu o nome significativo de Paraíso: da máquina estranhíssima emergiam sucessivamente os sete planetas então conhecidos, todos representados por cantores vestidos a caráter segundo os preceitos da mais requintada poesia, cada um deles recitando versos.
Ainda fazendo dos aposentos reais o receptáculo de seu refinamento, Leonardo desenhou os ornamentos e fez executar as pinturas que serviam de adorno à câmara de Ludovico no castelo em Milão; ele fez construir também os banhos destinados à duquesa Beatriz, e ainda hoje o Museu do Louvre conserva enorme quantidade de ilustrações contendo folhagens, animais, carros e fantasias que ele compôs para aquelas festas.
O temperamento brejeiro de Leonardo, seu amor pela vida, sua busca incessante da beleza e do movimento, e o apreço com que ele encrava o convívio social, tudo isso se adequava perfeitamente a essas atividades.
Festejos
Não podemos nos esquecer do quanto as festas religiosas e profanas representavam para o homem da renascença, um modo geral.Já nos tempos do Papa Bonifácio VIII, isto é, no final do século XIII, toda a Itália e a multidão dos peregrinos assistiam a magníficas pompas litúrgicas, que acompanhavam o culto dos santos, da Virgem Maria e do Filho de Deus.
O Papa Pio II, por sua vez, realizou em Viterbo, na segunda metade do século XV, uma Festa de Corpus Christi que permaneceu para sempre nos anais da cidade e da Igreja: fileiras de prelados, vestidos com seus mais belos paramentos, desfilaram a partir de uma esplêndida tenda montada diante de uma igreja menor, na direção da Catedral.
Em meio à profusão de cortinas, tapeçarias e guirlandas, o baldaquino sob o qual era abrigado o Santíssimo a tudo sobrepujava por sua beleza e luxo; viam-se, além disso, nos diferentes estágios da procissão, palcos montados às custas dos prelados, com atores vivos ou imagens, a presentação do Cristo sofredor entre querubins, a Última Ceia com a figura de São Tomás de Aquino, o arcanjo Miguel, fontes de vinho e orquestras de anjos, o túmulo do Cristo com a cena da ressurreição, e a tumba da Virgem defronte à Catedral; seguiu-se a Missa Solene e a Bênção.
Também, durante muito tempo, se falou nos festejos do Papa Alexandre VI, o famigerado papa Bórgia; e passou muito além das fronteiras da Itália a fama das festas oferecidas pelo Cardeal Pietro Riario em Roma, quando Leonora de Aragão passou por lá, como noiva de Hércules, príncipe de Ferrara.
No seu grande livro sobre a renascença italiana, fascinado pela riqueza e arte dessas festas, Jacob Burckhard diz que podemos apenas imaginar "o gosto daquele tempo, quando seres humanos apareciam nos festivais sob a forma de estátuas, colocadas em nichos ou pedestais, sobre pilares ou arcos do triunfo, e demonstravam estar vivos mediante o canto e a declaração"
Qual não era a impressão desses petáculos sobre um grande espírito como o de Leonardo da Vinci, o que não deveria ele sentir ao ver sobre o palco uma bela criança coberta de tinta dourada desde a cabeça até os pés, representando o antigo deus do Amor!
Ao ver corais entoar hinos de loucos não aos santos, mas à deusa Diana e a deusa Juno; fato ocorrido durante as núpcias de Annibale Bentivoglio e Lucrécia d'Este!
Agora, vamos ler sobre como iniciou seu interesse em Anatomia e Experimentos Científicos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário